terça-feira, 18 de março de 2008

Encontro Ricardo-Ronie / Parte 1


“Minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai. Durante as horas de perdição tive a coragem de não compor nem organizar. E sobretudo de não prever. Até então eu não tivera a coragem de me deixar guiar pelo que não conheço e em direção ao que não conheço: minhas previsões condicionavam de antemão o que eu veria. Não eram as antevisões da visão: já tinha o tamanho de meus cuidados. Minhas previsões me fechavam o mundo”
Clarice Lispector, A paixão segundo GH


Correndo atrás do pensamento ou pensamentos que me corr(o)em...

È também na tentativa de correr atrás de meus pensamentos e de organizar e formular minhas impressões, que escrevo aqui um pouco sobre esses dois dias de trabalho, troca e observacão com Ricardo Marinelli

Um corpo homem que se põem no espaço, que não se põem em fragilidades, um corpo forte, um corpo frágil. Um corpo de discursos e mentiras, de falácias e afetações. Um corpo denso, um corpo que transborda sua militância, suas arrogâncias e seus mais sinceros desejos e vontades. Um corpo ambíguo, cruel. Correndo atrás de seus pensamentos, ou nos mostrando aquilo que lhe corre, que lhe corrói. Ao vê-lo, me vejo também. Divido o espaço, observo sua crueldade de voyeur e de quem observa o que me é frágil, oscilo entre fragilidades e unhas afiadas. Observo a sua crueldade e doçura, desconfio. Ando pros lados, desconfio, cravo minhas unhas, falo de suas vaidades, que não lhe atinge. Um corpo de atleta, um discurso que não lhe cabe, que não cabe naquele tempo. Ele me impede de falar, não quero mostrar minha vergonha. Estar nu não é estar sem roupa. Consigo olha-lo. Ele dança. Dança das cuecas velhas, risos. Dança dos pensamentos que transbordam, pensamento de controle. De que fragilidade você fala Ricardo? O que é que te incomoda? Pergunto como alguém que não quer saber a resposta, sinto o prazer da crueldade de ver alguém que dança. Que crueldade tem em ver alguém que dança?! Falar só o que for realmente essencial. Comando 1. Pouco importa seus comandos, se são meus próprios comandos que me derrubam de meus saltos, te olho como quem porta luvas, luvas de boxe, luvas de seda, luvas de lavar louça, louça quebrada. Espero, o tempo não passa. Trinta minutos. Não passa. Saio com a angústia de quem tem pressa. De quem observa e tem pressa.

Ronie Rodrigues

Um comentário:

Princesa Ricardo Marinelli disse...

Ronie querido!
Foram muito especiais nossos dias de encontro!

Mais uma vez me deparei com um Ricardo que tem muito a aprender em tantos campos quando a questão é relacionar-se.

Minhas fugas, minhas máscaras, minhas atitudes quase sádicas... Dentre estas, algumas que quero sempre comigo, outras que quero dar um jeito de deixar de lado.

Me vi numa prazerosa questão: percebo que minha obsessão pela nudez tenha alguma relação com o fato de admirar pessoas que assumem melhor suas fragilidades. É, admiro, respeito, tento cuidar.

No fim das contas é como diz a Amábilis: quem mandou se escolher como assunto?

Obrigado pela generosidade.
Vamos conversando!
Beijocas